À medida que celebramos o Dia
Internacional da Mulher, é imprescindível lembrar que, enquanto exaltamos as
conquistas e avanços das mulheres, também devemos estar atentos aos desafios
que enfrentam, especialmente no que tange à sua saúde mental.
Nos últimos anos, a saúde
mental tem ganhado destaque nas discussões sobre bem-estar e qualidade de vida.
A valorização do autocuidado e a compreensão dos impactos dos fatores externos
em nossa saúde mental têm sido temas recorrentes. Contudo, ao direcionarmos
nosso olhar para a saúde mental das mulheres, deparamo-nos com um cenário
complexo e multifacetado, permeado por uma série de fatores determinantes.
As mulheres desempenham papéis
cruciais em nossa sociedade, frequentemente sendo as principais responsáveis
pelos cuidados. Seja no âmbito familiar ou profissional, assumem múltiplos
papéis como cuidadoras, educadoras, enfermeiras, assistentes sociais e muito
mais. No entanto, é paradoxal notar que, embora exerçam funções vitais, a
atenção dispensada à saúde mental das mulheres frequentemente é insuficiente.
Dados do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que, em 2022, as mulheres dedicavam
em média 9,6 horas a mais do que os homens aos afazeres domésticos e/ou
cuidados de pessoas. Apesar de uma leve redução em comparação com anos
anteriores, a disparidade ainda é significativa, com 92,1% das mulheres
envolvidas nessas atividades, em comparação com apenas 80,8% dos homens do
mesmo grupo etário.
Essa sobrecarga de
responsabilidades não se restringe ao ambiente doméstico. Mulheres que
trabalham fora dedicam, em média, 6,8 horas a mais do que os homens ocupados
aos afazeres domésticos e/ou cuidado de pessoas. Essa dupla jornada, aliada às
pressões do trabalho remunerado, propicia um ambiente propenso à sobrecarga
física e mental.
Estudos evidenciam que
mulheres que enfrentam uma alta sobrecarga doméstica têm uma incidência
significativamente maior de condições psicológicas e transtornos mentais,
afetando de 1 a cada 5 mulheres a 1 a cada 2 mulheres. Essa sobrecarga é
agravada pela instabilidade do mercado de trabalho, marcada por vínculos
temporários e precários, gerando ansiedade e insegurança adicionais.
Além disso, eventos como
licença maternidade, doenças físicas e mentais e o tempo dedicado ao cuidado
dos filhos podem impactar negativamente a percepção de disponibilidade e
comprometimento profissional da mulher, levando à discriminação e exclusão do
mercado de trabalho.
Ao reconhecermos os desafios
enfrentados pelas mulheres em relação à sua saúde mental, torna-se essencial
que, como sociedade, ofereçamos o apoio e os recursos necessários para proteger
seu bem-estar geral. A criação de redes de apoio sólidas e o acesso a serviços
de saúde mental são passos essenciais para garantir que as mulheres possam
enfrentar esses desafios com resiliência e fortaleza.
Nesta semana, ainda
comemorando o Dia Internacional da Mulher, comprometamo-nos a cuidar daqueles
que cuidam de nós. Reconheçamos a importância da saúde mental das mulheres e
unamo-nos para criar um ambiente que promova seu bem-estar e equidade. Somente
assim poderemos construir uma sociedade verdadeiramente inclusiva e saudável
para todos.
Este conteúdo foi baseado no
artigo da psicóloga Jullyanna Cardoso, publicado originalmente na coluna
opinião do jornal Folha de Pernambuco.